FENTEPP 25 ANOS

O FENTEPP CONVIDA À PAUSA PARA A ARTE

Precisamos de teatro para viver? Não raro ouvimos esse questionamento e, em meio a tantas carências, a dúvida pode não soar absurda. Admitamos, é possível uma existência sem arte, dedicada apenas às funcionalidades do dia a dia. Afinal, desde o desenho inaugural em uma caverna ou o primeiro rito dançado em torno da fogueira, a expressão artística nasce e se configura na suspensão das urgências cotidianas. Passados milênios, em plena era digital marcada pela saturação de estímulos, talvez o que rito teatral tenha a propor de mais precioso seja a possibilidade de abertura da pausa e do silêncio interno para a escuta dos próprios pensamentos. Nesses tempos de dispersão em que muitas vezes somos mais escravos do que senhores de recursos tecnológicos, literalmente in-corporados ao nosso cotidiano, cada espetáculo do Fentepp nos convoca a ativar imaginação e sensibilidade no processo de interação com formas lúdicas e poéticas. Porém, se a proposta é a ruptura com o ordinário da vida, tal deslocamento não se traduz em alienação, bem ao contrário disso, uma vez que os criadores das obras selecionadas não vivem em Marte e, sendo assim, a matéria-prima com que trabalham são inquietações colhidas em um campo social e existencial compartilhado.

Estudioso das artes performáticas, o diretor estadunidense Richard Schechner afirma que todo rito cênico tem como objetivo entreter e ser eficaz, em outras palavras, é constituído de diversão e intencionalidade. Ainda segundo o ponto de vista dele, a arte teatral floresce quando esses dois elementos alcançam um bom equilíbrio. A busca por tal medida moveu a curadoria ao compor a programação desta 25ª edição do festival.

Se bem-sucedida nessa tarefa, cada criação propiciará ampliar a percepção de algum aspecto da existência e, simultaneamente, fruição prazerosa, seja apresentada na rua, no palco, sobre um ônibus ou mesmo dentro dele, em pleno trânsito urbano, na diversidade de espaços cênicos que já se tornou signo de identidade dessa mostra. O mesmo se pode dizer da variedade de temas e de linguagens que desta vez abarcam desde as formas animadas, daquelas capazes de encantar os sentidos e surpreender o olhar, até as dramaturgias voltadas para instigar o pensamento como as que questionam o lugar da mulher ou a mobilidade social. E, por último, mas não menos importante, das peças voltadas para a infância com suas delicadas metáforas. Assim, são muitos os teatros presentes ao Fentepp prontos para a recepção de diferentes espectadores. Que todos e todas usufruam de suas escolhas com alegria.

Beth Néspoli - Denilson Biguete - Eliana Monteiro
Curadores